25 agosto 2007

Nova Língua Portuguesa

Nossa Língua Portuguesa
Vem reforma aí. O bom é que brasileiro já escreve bem, fala bem, vai tirar de letra, rá rá rá. Estima-se que o tempo de adaptação (principalmente nas escolas com apostilas e gramáticas) seja de dois anos mais ou menos. Muda coisa pra caramba, algumas das mudanças eu conto aqui.Depois de muito chove-não-molha o trema cai de vez, exceto em nomes próprios e derivados. Cai o acento cincunflexo dos verbos crer, dar, ler e ver conjugados na terceira do plural. Em vez de crêem / dêem / lêem / vêem, vamos grafar creem / deem / leem / veem. A mesma coisa acontece nos hiatos vôo / enjôo, que passam a ser grafados voo / enjoo. Muda também o uso do hífen. Quando o segundo elemento começa com s ou r, a consoante é duplicada: antirreligioso, contrarregra, etc., salvo quando os prefixos terminarem em r, por exemplo, super-revista. Sempre tem um "salvo", rs. Não se acentuam mais os ditongos abertos ex. jibóia e heróico, que passam a ser jiboia e heroico simplesmente. Diz que a mudança é pra facilitar, simplificar e unificar. Todos os países de língua portuguesa vão se adaptar às regras. A maior parte não reclama, só quem ´tá fazendo confusão é Portugal. Tudo por causa do "c" e do "p" de acção / acto / adopção / óptimo, que passa a ser ação / ato / adoção / ótimo. Também cai o "h" das palavras herva e húmido. Erva e úmido agora, como a gente escreve aqui na colônia. Mas a mudança que eu achei bacana mesmo foi a do alfabeto, que finalmente passa a ter 26 letras. Agora é oficial. Vão entrar pela porta da frente as letras k, w e y, que antes ficavam à margem da sociedade. Isso é praticamente uma inclusão social. Vai ser a alegria das futuras mamães de Wellingtons, Washingtons, Wesleys, Marlombrandysons, Dayennys, Katchiúcias, Shirlleyannys e Suzyannys espalhados Brasil afora. Vai ser uma beleza.

18 janeiro 2007

Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde, morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente... De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, dependuradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça. Por isso viva tudo que há para viver. Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da vida. Perdoe. Sempre.